O Porto4Ageing organizou no âmbito do EIT Health Portugal da Universidade do Porto a primeira sessão deste ano das Morning Health Talks com o tema: Beyond the Money – Superar Obstáculos à Inovação em Saúde em Portugal. Realizado a 12 de junho de 2025, na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto, este evento híbrido reuniu profissionais de saúde de destaque de Portugal e da Galiza, Espanha, que partilharam perspetivas sobre como ultrapassar obstáculos na integração de novas tecnologias, soluções digitais e práticas inovadoras em contextos clínicos. Como afirmou Elísio Costa na apresentação do evento “Hoje queremos deixar um pouco de lado a questão financeira e falar sobre, para além do dinheiro, quais são os obstáculos à inovação na saúde e à implementação efetiva de soluções digitais na vida real.”

Programa das MHT

Destaques do Evento

Estas Morning Health Talks contaram com a participação de um grupo de oradores destacados, nomeadamente Elísio Costa, Professor na Faculdade de Farmácia na Universidade do Porto e Coordenador do Porto4Ageing, Iván Rarís Filgueria, diretor executivo do Cluster de Saúde da Galiza, Maria João Baptista, Presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de São João, Pedro Guimarães Cunha, Presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Alto Ave e António Taveira Gomes, Presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Matosinhos. Todos partilharam a sua experiência e perspetivas sobre como ultrapassar obstáculos na implementação de soluções digitais e práticas inovadoras no sistema de saúde.

O Modelo Galego: Um Caso de Sucesso na Digitalização e Colaboração

Iván Rarís Filgueria - Cluster de Saúde da Galiza.

Iván Rarís Filgueira apresentou a Galiza como um exemplo de sucesso na integração da inovação na prática clínica. Destacou o papel central do sistema de saúde público galego e do Ministério da Saúde na promoção de uma profunda digitalização, patente na existência de um registo eletrónico de saúde universal com mais de uma década. Sublinhou ainda a construção de um ecossistema tecnológico sólido, que impulsionou empresas locais com projeção nacional e internacional. Referiu que um dos pilares desta estratégia tem sido a contratação pública de inovação, que permitiu desenvolver soluções tecnológicas alinhadas com necessidades concretas do sistema de saúde, através da colaboração com a indústria. A Galiza tem também trabalhado para aproximar a investigação básica da aplicação prática, promovendo a ligação entre universidades, centros de investigação e setor privado. Ivan destacou ainda o investimento estratégico em inteligência artificial, nomeadamente com a criação de uma “fábrica de IA” com 60 milhões de euros destinados à experimentação em saúde. Terminou com uma reflexão crítica: tanto a Galiza como o Norte de Portugal têm dificuldade em comunicar eficazmente os seus avanços e em promover o valor do trabalho desenvolvido.

Obstáculos para Além do Financiamento: A Perspetiva Portuguesa

Mesa-Redonda - Maria João Baptista (ULS de São João), Pedro Guimarães Cunha, (ULS de Alto Ave) e António Taveira Gomes (ULS de Matosinhos).

A mesa-redonda reuniu representantes de várias instituições de saúde que, apesar das suas diferentes realidades geográficas, identificaram desafios comuns à implementação da inovação no setor. Um dos principais obstáculos mencionados foi a complexidade e morosidade dos processos de contratação pública, que dificultam a concretização de projetos mesmo quando já existe financiamento. Outro desafio transversal apontado pelos intervenientes prende-se com os recursos humanos, tendo sido destacada a dificuldade em recrutar e alocar profissionais para as áreas de investigação e inovação, uma vez que a prioridade institucional recai, compreensivelmente, nos cuidados assistenciais diretos. Os oradores apelaram ainda a uma liderança nacional mais estratégica e facilitadora, tendo em conta que, para promover uma inovação sustentável, é essencial descentralizar a tomada de decisão, confiar nas instituições locais e evitar a pressão excessiva por resultados imediatos. Foi ainda sublinhado um desalinhamento entre a produção de conhecimento académico e as necessidades concretas dos serviços de saúde, tendo sido sugerida uma maior articulação entre estes dois mundos.

António Taveira Gomes referiu a ULS Matosinhos como exemplo de uma estrutura com quase três décadas de existência que continua a ser um modelo inovador, onde a cultura organizacional tem sido determinante para o sucesso. Pedro Guimarães Cunha reforçou a importância de criar ecossistemas colaborativos, juntando academia, empresas, autarquias e cidadãos, como caminho essencial para a transformação dos sistemas de saúde. Entre as soluções já em prática, foi apresentado, por Maria João Baptista, o Concurso de Novas Ideias da ULS São João, um mecanismo interno que permite aos profissionais apresentar propostas inovadoras, avaliadas com o objetivo de serem implementadas no terreno.

A mesa encerrou com um apelo à construção de uma visão de longo prazo, alertando que mudanças estruturais num sistema com mais de 40 anos exigem tempo e compromisso. Os participantes reforçaram ainda a importância da colaboração inter-regional, em particular entre a Galiza e o Norte de Portugal, como forma de potenciar a partilha de recursos, aprendizagem mútua e sinergias inovadoras que beneficiem o sistema como um todo.

Principais conclusões da sessão

Esta discussão evidenciou que, apesar dos constantes constrangimentos financeiros, os desafios centrais à inovação em saúde são de natureza estrutural e organizacional:

  • Burocracia excessiva: especialmente nos processos de contratação pública, o que dificulta a operacionalização de projetos inovadores, mesmo quando há financiamento disponível
  • Escassez de recursos humanos: a grande dificuldade em alocar profissionais à investigação e inovação, limita a capacidade das instituições para desenvolver respostas estruturadas e sustentáveis
  • Desalinhamento na ligação entre academia e prática clínica: maior articulação entre a produção científica e as necessidades concretas dos serviços de saúde de forma a desenvolver soluções inovadoras com verdadeiro impacto no terreno.

Destacou-se também a importância de ambientes colaborativos, marcados pela transparência, pela partilha de conhecimento e pela construção de ecossistemas locais e regionais que promovam a inovação contínua.

Neste contexto, o modelo galego surgiu como uma referência inspiradora, sobretudo na sua capacidade de utilizar a contratação pública de forma estratégica e de desenvolver um ecossistema digital integrado, centrado no acesso eficiente à informação em saúde. O potencial de uma colaboração mais profunda entre o Norte de Portugal e a Galiza é enorme, impulsionado por desafios comuns e pela urgência de otimizar os cuidados de saúde para uma população cada vez mais envelhecida.

Este evento reforçou, assim, a urgência de transitar de um sistema centrado na resposta imediata para um modelo de saúde mais sustentável, colaborativo e orientado para a inovação como motor de transformação.

EIT Health Morning Health Talks

O que é o EIT Health?

O EIT Health é uma iniciativa europeia co-financiada pela Comissão Europeia que envolve 13 países com o objetivo de promover a inovação na área da saúde. Esta iniciativa visa impulsionar projetos e colaborações que tenham um impacto positivo na vida das pessoas, melhorando a qualidade e sustentabilidade dos sistemas de saúde na Europa. Através de parcerias estratégicas entre universidades, empresas e profissionais de saúde, o EIT Health procura transformar o setor da saúde.

O que são as Morning Health Talks?

As Morning Health Talks são uma série de eventos lançados pela EIT Health para estimular discussões provocadoras sobre os temas mais prementes da inovação em saúde. Estes eventos criam um ambiente de networking para todos os intervenientes na área da saúde nas regiões da Europa Central, Oriental e do Sul. Nos últimos três anos, os ecossistemas de saúde locais nas regiões em desenvolvimento da Europa (zonas InnoStars/RIS) têm se concentrado em questões específicas de saúde e inovação que são cruciais para os seus ecossistemas regionais. Ao reunir líderes regionais, as Morning Health Talks ajudam a mapear as melhores práticas e desafios comuns das soluções de saúde digital. Todas as regiões enfrentam uma crescente procura por serviços de saúde, e muitas tecnologias digitais ajudam a atender essas necessidades. As Morning Health Talks locais oferecem uma visão sobre o desenvolvimento de ecossistemas de saúde digital em regiões consideradas inovadoras moderadas ou modestas no panorama europeu, envolvidas pelo EIT Regional Innovation Scheme.

Interessados em saber mais podem contactar eithealthporto@reit.up.pt

> Praça Gomes Teixeira 4099-002 Porto, Portugal        ☎ +351 22 040 80 00         @ porto4ageing@reit.up.pt
This is default text for notification bar
Skip to content